Antes do Degelo.

A obra de que vos vamos falar hoje é Antes do Degelo, um romance que ganhou o Prémio Camões em 2004, sendo este romance editado pela Guimarães Editores, nesse mesmo ano.

Trata-se de um romance inspirado em "Crime e Castigo", de Dostoievsky, centrado nas personagens José Rui e Genaro, onde está presente também a figura do duplo.

Para a capa deste romance, a autora escolheu a imagem do Paço da Quinta de Cavaleiros, onde se vêm algumas das suas janelas e parte da loggia renascentista, aqui já em ruínas mas ainda visível (hoje a fachada principal do Paço está totalmente tomada pela vegetação).

Ao longo do romance encontramos várias referências à Quinta de Cavaleiros. Logo no Prólogo do romance é-nos apresentada a casa da “capa” do livro. Surge então a primeira referência a Cavaleiros, nesta obra apelidada de “Condestável”: “‘Condestável’, uma propriedade de férias de Charo Medeiros, de solteira Rosário Palla, já tudo estava ao abandono” (p.9), referindo-se a autora à Casa de Cavaleiros no seu estado de ruína, assumindo mesmo que “a quinta era uma ruína”, apresentando-se “num estado deplorável”, acrescentando que “as silvas cobriam as paredes até metade” (p. 9).

A autora apresenta ainda uma justificação, quer para o nome de “Condestável” quer para o nome de Cavaleiros, que sabemos não serem claros os motivos da origem real deste nome, afirmando que desta casa “se dizia acampavam os cavaleiros de D. Nuno Álvares Pereira” (p.9).

As referências à Casa de Cavaleiros sucedem-se na obra, ou como memórias das personagens ou na tentativa de venda da mesma narrada no livro, estando já hipotecada, continuando as referências à Casa e suas caraterísticas: “ainda que em ruínas, tinha uma traça medieval com a varanda de colunas e a vastidão das salas onde as camas se perdiam como se fossem de bonecas” (p. 302).

Uma vez mais, como acontece em várias obras da autora, a referência a Cavaleiros surge muito no contexto das férias passadas nesta propriedade, sendo que Antes do Degelo não foge à regra, onde se referem as “férias de setembro” (p.305), e Cavaleiros, também aqui, “não tinha sido a casa de família, mas correspondia a um tempo breve de férias de Outono” (p. 308).

As referências não se limitam ao Paço, toda a propriedade é referida, tal como os “velhos bosques de Cavaleiros”, aqui já sem “aquela pujança de verdes e sombras onde cantava uma nascente escondida” (p. 308), numa propriedade que a personagem Charo terá conhecido “com algum esplendor” (p.315), entretanto perdido pelo abandono e consequente ruína.
 

Ficou curioso? Acompanhe-nos nesta nossa viagem pela obra de Agustina, rumo ao centenário.
 

Bibliografia

BESSA-LUÍS, Agustina – Antes do Degelo. Lisboa: Guimarães Editores, 2004.