No passado dia 15 de outubro, Agustina Bessa-Luís (15 de outubro de 1922 — 3 de junho de 2019) faria 99 anos. A partir de então, no dia 15 de cada mês, damos a conhecer uma das obras de Agustina Bessa-Luís com referências diretas a locais da nossa União de Freguesias, fruto da sua ligação às nossas terras, em especial a Bagunte e a Outeiro, locais que fizeram parte da sua vida, sobretudo na fase da adolescência, e que se eternizam agora na sua obra. Acompanhe-nos neste percurso literário que nos conduzirá até ao centenário do seu nascimento, a 15 de outubro de 2022.

HOMENS E MULHERES

A obra de que vos vamos falar hoje é Homens e Mulheres, o primeiro volume de Bíblia dos Pobres, o segundo volume tem por nome As Categorias. A obra Bíblia dos Pobres é composta por dois romances, editados pela Guimarães Editores, o primeiro em 1967 e o segundo em 1970.

Mas é sobre o primeiro volume, Homens e Mulheres, que nos debruçaremos. Trata-se de um romance, centrado na história de três irmãos – Severina, Horácio e Leopoldo – que, após a morte da avó, são separados, relatando esta obra os desafios e as dificuldades que cada um encontrará nos respetivos contextos em que são colocados. Severina é, deste modo, levada por Lina de Cavaleiros para a Quinta de Cavaleiros, em Outeiro Maior, centrando-se a sua história nestes locais.

No capítulo dedicado a Severina encontramos, por isso, numerosas referências aos habituais locais que vão surgindo na obra de Agustina – a Quinta de Cavaleiros, o lugar de Corvos e a capela de Nossa Senhora das Neves, bem como as respetivas envolventes -, e nesta obra, para nosso prazer, demora-se em descrições destes locais.

Como não poderia deixar de ser, a Quinta e Casa de Cavaleiros, essa “estranha, arruinada, perdida” (p. 18) casa, ocupam nesta parte da obra um grande destaque. A autora começa por fazer uma descrição da casa, dizendo que “não era uma casa de família” e que “pertencera ao antigo domínio dos Condes do mesmo nome, e, antes deles, ao Condestável Nun’Álvares”, referindo ainda que “por alturas do século XVI devia ter sido soberba com a grande varanda de seis colunas de pedra rematadas por capitéis de carrancas” (p. 18/19), tudo isto enquadrado numa bela paisagem: “aquele belo coutado, a casa de armas e as bouças como catedrais de madeira viva” (p.19).

A capela da Quinta de Cavaleiros, dedicada a São Jerónimo, é também referenciada e descrita na obra, que diz ter sido “outrora forrada com preciosos azulejos do Rato (…) tinha ainda altares pintados com motivos do Apocalipse, anjos que empunhavam uma foice, outros que tinham na mão a chave do abismo” (p.20).

Remata dizendo: “Lugar facinoroso e, no entanto, alheio de não se sabe que vitória, que calor obscuro e sem melancolia, era Cavaleiros” (p.21).

O lugar de Corvos e a capela de Nossa Senhora das Neves são, também, mencionados, como envolvente da Quinta, com “a sua varanda medieva, com os cães da Aldeia de Corvos, correndo nas vessadas em perseguição dos romeiros que iam botar azeite na talha da Senhora das Neves, santa da casa” (p.22), pois a capela pertencia também à Casa de Cavaleiros. A capela, refere, encontrava-se “numas bouças cristalinas, umbrosas, com feixes de luz rosada, à Rembrandt, descaindo alto, em réstias sobrenaturais” (p.22).

Ficou curioso? Acompanhe-nos nesta nossa viagem pela obra de Agustina, rumo ao centenário.

No próximo dia 15 de abril a obra escolhida é o romance “Antes do Degelo”.

Bibliografia

BESSA-LUÍS, Agustina – Homens e Mulheres. A Bíblia dos Pobres I. Lisboa: Guimarães Editores, 1967.