
A Paróquia de Santa Maria de Bagunte cumpre, a cada 10 de agosto, a tradição da Romagem ao Cemitério, aquilo que em muitos locais se denomina por festa das Almas. Mas porquê no dia de São Lourenço e não no mês tradicionalmente dedicado às orações pelas Almas, o mês de novembro?
São Lourenço
Lourenço foi um Diácono da Igreja do século III (225-258) que foi martirizado na perseguição aos cristãos levada a cabo pelo Imperador Valeriano I.
Em relação ao seu martírio chegaram até nós dois episódios que merecem especial referência. Lourenço, como diácono, colaborava diretamente com o Papa de então, o Papa Sisto II, que foi também martirizado. Após o martírio do Papa, Lourenço recebeu a ordem para apresentar ao Imperador todos os bens da Igreja, e aqui temos o primeiro episódio. Lourenço, perante esta ordem, apresentou ao Papa os pobres que eram ajudados pela Igreja, referindo: “Estes são os bens da Igreja”. Perante isto o Imperador ordenou que Lourenço fosse queimado vivo. E no momento do martírio temos o segundo episódio, durante a execução do martírio Lourenço terá dito aos soldados que o queimavam: “podem-me virar, deste lado já está assado”.
A sua representação (iconografia), como pode ser observada na imagem (séc. XIX?) que se venera na Igreja Paroquial de Bagunte, remete-nos, como é comum, para a vida do santo. Encontra-se revestido das vestes diaconais, ou seja, pela alva, dalmática e manípulo (a estola diaconal não está visível). A cor vermelha dos paramentos remete para o martírio, o esplendor que pende sobre a cabeça para a santidade deste, a grelha que segura na mão para o modo como foi martirizado e, na outra mão, segura uma Bíblia que nos remete para a Palavra de Deus vivida e proclamada.
Almas do Purgatório
Embora anterior, foi sobretudo a partir do século XVII e XVIII que o culto das almas ganhou maior incremento, a ponto de ser comum as paróquias terem os seus retábulos das Almas, altares dedicados a esta devoção (como acontece/aconteceu nas nossas).
Nestes retábulos vemos representado o Purgatório, que se pode dizer ser como que uma antecâmara do Céu, local de purificação das Almas para posteriormente se poderem apresentar na presença de Deus e dos Santos.
O Altar das Almas (séc. XVIII?) da Igreja Paroquial de Bagunte representa o purgatório numa espécie de barca, demonstrando o seu caráter transitório, com as almas pedindo o seu resgate, que é conseguido pela interceção dos santos e pelas orações do Povo. Especial destaque neste retábulo merece a interceção de Nossa Senhora que, como podemos observar, intercede junto da Trindade, representada acima, pelas almas.
Junto das almas, e resgatando uma, vemos o arcanjo São Miguel, segurando ainda uma balança. A São Miguel é atribuída a tarefa de pesar as almas, separando puros de impuros. É também a este arcanjo que é atribuída a tarefa de conduzir as almas ao Céu e de guardar as portas do Paraíso.
São Lourenço e as Almas do Purgatório
Além de padroeiro dos diáconos e, ainda, dos cozinheiros e humoristas, muito pelo episódio do seu martírio aqui mencionado, Lourenço é, ainda, padroeiro das Almas do Purgatório, pelo facto de ter sido condenado ao fogo e de ter sido mais forte do que o fogo. Pode-se dizer que venceu o fogo pois, pelo martírio no fogo, apresentou-se, depois, junto da Trindade.
E aqui encontramos a justificação para que, na Paróquia de Bagunte, se associe a Memória Litúrgica de São Lourenço à devoção às Almas do Purgatório.