O mês de junho é tradicionalmente conhecido pela devoção ao Sagrado Coração de Jesus, sendo que a Igreja celebrou esta Solenidade na passada sexta, dia 24 de junho, por se realizar sempre na sexta da segunda semana depois do Domingo de Pentecostes, tendo este ano coincidido com o dia de São João.

A origem desta devoção

A devoção ao Sagrado Coração de Jesus tem as suas raízes com o Evangelista João, nomeadamente no Evangelho de São João e no Apocalipse, e de maneira especial no Lado Aberto de Cristo na Cruz relatado no Evangelho Segundo São João (cf. Jo 19, 31-37). A devoção ao Sagrado Coração de Jesus nasce, por isso, da Paixão de Cristo e, de forma especial, da devoção às Santas Chagas, estando relacionada com uma das Chagas, a do Lado Aberto.

Vários autores, santos, religiosos e clérigos, foram associando, desde a Patrística até à Idade Média, o Lado Aberto ao Coração de Cristo e ao seu Amor derramado na Humanidade, desenvolvendo aquilo que veio a ser a teologia do Sagrado Coração, os seus fundamentos.

No século XVI, e motivado pelo contexto da Época Moderna, desde a Reforma, à Contra-Reforma, com o concílio de Trento e a afirmação de várias correntes de espiritualidade inspiradas por várias figuras que se afirmavam no campo católico de então, muitas devoções conhecem um novo folego e a devoção ao Sagrado Coração não é exceção. Deste modo, a devoção conhece nova expansão, sobretudo com Margarida Maria Alacoque e as suas revelações, embora com significativos contributos anteriores de Francisco de Sales e João Eudes.

Esta remota devoção transforma-se, deste modo e sobretudo pelo relato de Margarida Maria acerca das aparições de Jesus Cristo com o seu Sagrado Coração, numa “nova” devoção, no sentido em que ganha novos contornos e dimensão, com novas práticas de piedade e litúrgicas, conhecendo uma forte implantação nos séculos seguintes e até hoje e, para isso, contribuíram as Irmãs da Visitação e a Companhia de Jesus, por mandato de Jesus, revelado por Margarida Maria. Quanto ao reconhecimento do Magistério da Igreja esse aval chegará mais tarde, sobretudo a partir do século XIX, já Portugal tinha uma Igreja dedicada ao Coração de Jesus, a Basílica da Estrela, por indicação da rainha D. Maria I, no século XVIII, a primeira Igreja, a nível mundial, dedicada ao Sagrado Coração de Jesus. Sendo que, em Portugal, contamos com mais duas Basílicas que lhe são dedicadas, a do Sagrado Coração de Jesus da Póvoa de Varzim, no nosso Arciprestado, e ainda a do Monte de Santa Luzia, em Viana do Castelo.
 

A presença desta Devoção nas nossas paróquias

 A presença da devoção ao Coração de Jesus é transversal entre as paróquias portuguesas e, concretamente, nas quatro Paróquias que compõem a nossa União de Freguesias. Partilhamos convosco algumas dessas marcas presentes.

 Na Paróquia de Santa Maria de Bagunte destaca-se o grande altar lateral dedicado ao Calvário, com o Jesus Crucificado e as figuras que se encontravam junto à Cruz, bem como a imagem do Coração de Jesus e Santa Margarida Maria Alacoque, que terão sido acrescentadas a este altar no primeiro quartel do século XX. Este é o único altar, entre as nossas paróquias, que evoca a aparição de Jesus a Santa Margarida, que foram o grande impulso para o crescimento desta devoção.

Em São Martinho de Outeiro Maior, além da significativa imagem que se encontra na Igreja Paroquial, chegou até nós uma antiga bandeira do Coração de Jesus, provavelmente ainda do século XIX, em veludo vermelho, com um coração em relevo de tecido e bordada a fio de ouro;

Já em Santa Marinha de Ferreiró, além do altar que lhe é dedicado na Igreja da Santíssima Trindade, temos a sua presença na rua, no lugar que recebeu também o seu nome, com um monumento ao Sagrado Coração de Jesus, construído em 1966 e reconstruído em 2013. Nesta Paróquia existe ainda um outro monumento, num lugar próximo, dedicado ao Sagrado Coração de Maria.

 Em Santo André de Parada, destacamos a imagem, recentemente restaurada e colocada no interior da Igreja, provavelmente dos inícios do século XX.

Nesta Paróquia, como nas restantes, destaca-se, além da presença da imagem no interior da Igreja Paroquial, a existência da bandeira do Sagrado Coração de Jesus, vinculada à existência da confraria, como era comum em todas as paróquias.

Sinais de uma devoção que foi deixando marcas nas nossas paróquias ao longo dos séculos e, sobretudo, a partir do século XIX, e que convidam a que os revisite, agora com outro olhar.
 

Legendas imagens:

- Imagem do Sagrado Coração de Jesus, Igreja Paroquial de Santo André de Parada, 2021 (foto cedida pela Paróquia);

- Imagem do Sagrado Coração de Jesus, Paróquia de Santa Marinha de Ferreiró, 2022 (foto DR).

- Frontal da Bandeira do Sagrado Coração de Jesus, Paróquia de São Martinho de Outeiro Maior, 2022 (foto DR);

- Imagem do Sagrado Coração de Jesus e Santa Margarida Maria Alacoque, Igreja Paroquial de Santa Maria de Bagunte, 2022 (foto de Marisa Ferreira);