Quinta de Cavaleiros

A Quinta de Cavaleiros ou, mais concretamente, o Paço ou Casa de Cavaleiros, localiza-se em Outeiro Maior, no lugar com o mesmo nome e já próximo do lugar de Corvos, em Bagunte, no sopé da Cividade. Este imóvel está classificado como Monumento de Interesse Público e encontra-se em elevado estado de ruína.

O Paço terá raízes medievais, possivelmente entre os séculos XIII e XIV, sendo que alguns documentos que atribuem importância a Cavaleiros apontam para este período. Em 1222, nas Inquirições de D. Afonso II, surge mencionado que a paróquia, a atual Paróquia de São Martinho de Outeiro Maior, é “Honra de Cavaleiros desde antigamente, da família de D. Fafia Guterres”, que poderá ser, eventualmente, o fundador da Casa de Cavaleiros, sendo também o documento mais antigo com referência à paróquia de São Martinho, à altura “São Martinho de entre Ave e Este”*, em referência aos dois rios das proximidades. E o mesmo acontece em 1258, onde as Inquirições de Afonso III confirmam a existência da “Honra de Cavaleiros”**. Outra data importante no que à origem do edifício respeita é a de 1393, data em que Estevão Ferreira instituiu na propriedade de Cavaleiros um morgado. Assim sendo, a origem da Casa de Cavaleiros situa-se, muito provavelmente, entre estas datas.

No que respeita ao nome “Cavaleiros”, não está esclarecida a sua origem. Julgou-se que poderia ter alguma ligação à Ordem dos Templários ou Cavaleiros Templários, que foi uma ordem militar da Idade Média, composta por monges, fundada aquando da Primeira Cruzada, no ano de 1096, e extinta já no século XIII, altura em que se terá fundado esta Casa, mas nunca se confirmou tal ligação. Contudo, e tendo em conta os documentos acima mencionados que se referem à Casa como “Honra de Cavaleiros”, podemos colocar a hipótese de o nome Cavaleiros estar associado à possível origem militar desta Casa, pois “honra” era, na Época Medieval, uma determinada área de terra que alguém recebia diretamente da Coroa por serviços, sobretudo militares, prestados, pertenciam por isso a nobres ou fidalgos, sobretudo aos de origem militar, o que pode explicar o nome “Cavaleiros”. Importa referir que estas referidas “honras” gozavam de inúmeros privilégios, como a isenção no pagamento de impostos à Coroa.

O Paço de Cavaleiros torna-se, deste modo, o solar medieval dos Ferreiras, ou Ferreiras de Eça após o casamento de Estevão Ferreira, já mencionado, e Beatriz Eça, de linhagem real. Esta casa permaneceu como habitação regular da família até ao século XVI, altura em que passa a ser residência sazonal, passando a residência fixa da família para a conhecida Casa do Arco, na cidade de Guimarães.

Até este período, os senhores de Cavaleiros faziam-se sepultar no Mosteiro de São Simão, na Junqueira. Já entre os séculos XVI e XVII, sepultaram-se no Convento de Nossa Senhora da Encarnação (São Francisco), em Vila do Conde, fundado por esta altura, em 1522, três gerações desta família, na capela que aí lhes era destinada. Até aos nossos dias permanece nele, no exterior da Igreja deste convento, a pedra brasonada desta família.

À Casa de Cavaleiros surge associado, mais tarde, o título de Conde de Cavaleiros, que foi criado por D. Maria I em 1802, sendo o seu primeiro titular D. Rodrigo Menezes, casado com D. Maria Ferreira de Eça e Bourbon, senhora da Casa de Cavaleiros. Não habitando já a casa, foi a esta que foram buscar o nome para o então título atribuído a esta linhagem, pela sua importância e antiguidade. No século XIX existiram ainda três condes de Cavaleiros.

No seu aspeto atual, no que era possível observar antes da vegetação cobrir praticamente todo o complexo, evidenciam-se diferentes épocas de construção, destacando-se a torre medieval, que remontará ao século XIII ou XIV e se ergue a poente, junto à capela, e a varanda loggia, um exemplar raríssimo de arquitetura civil renascentista, a nascente, do século XVI, onde se destacam as suas doze colunas de mármore. Ou seja, falamos de um edifício medieval com significativos melhoramentos no século XVI, tornando-o um edifício apalaçado, como é exemplo disso a referida varanda loggia.

Além da capela existente junto ao paço, dedicada a São Jerónimo e de dimensões consideráveis, tendo em conta o ser uma capela privada, pertencia também à Quinta de Cavaleiros a capela de Nossa Senhora das Neves, capela do século XVI, localizada no lugar do Cerco, sendo que parte da envolvente pertence, ainda hoje, à Quinta de Cavaleiros. A capela pertence, atualmente, à Paróquia de Santa Maria de Bagunte, e a esta Capela dedicamos já um texto***.

Ainda hoje propriedade privada, a Quinta de Cavaleiros conheceu, depois do seu passado nobre e, até, condal, outros proprietários merecedores de menção. Importa referir o sr. Bessa, pai de Agustina Bessa Luís, o que possibilitou que a referida escritora passasse, na sua infância e adolescência, temporadas estivais na Quinta e refira em algumas obras suas não só esta como outros locais da sua envolvente, como é o caso da capela de Nossa Senhora das Neves.

Um local que, não obstante a sua ruína atual, surge num enquadramento privilegiado que convida, por exemplo, a uma caminhada que, num percurso não muito longo, poderia incluir, ainda e além da Quinta, a Cividade de Bagunte (Monumento Nacional) e a Capela de Nossa Senhora das Neves, outrora parte integrante da Quinta, bem como toda a envolvente rural, entre campos, bouças e casas de lavoura. Um local a Revisitar.
 

*José Ferreira, Outeiro Maior, p. 14.

**José Ferreira, Outeiro Maior, p. 23.

***https://uf-bagunte-ferreiro-outeiro-parada.pt/pages/revisitar/7/Capela_N._Senhora_das_Neves

     

     

     

Legendas fotos:

- Exterior da Capela do Paço de Cavaleiros, 2021;

- Interior da Capela do Paço de Cavaleiros dedicada a São Jerónimo, 2021;

- Torre Medieval do Paço de Cavaleiros, 2021;

- Ruínas do Paço tomadas pela vegetação que a cobre quase na totalidade, 2021.

- Varanda loggia renascentista do Paço de Cavaleiros (DGPC), sd.;

- Fachada principal do Paço de Cavaleiros (DGPC), sd.

 

Bibliografia

- Condes de Cavaleiros [em linha]. Sangue de Bragança – Geneall. [Consult. 07 abril 2022]. Disponível em WWW: https://geneall.net/B/pt/nome/24333/d-rodrigo-jose-antonio-de-menezes-1-conde-de-cavaleiros/

- FERNANDES, Paulo Almeida – Nota histórico-artística. In Paço do Casal de Cavaleiros [em linha]. DDCI - DGPC, 2007. [Consult. 07 abril 2022]. Disponível em WWW: http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/156114/

- FERREIRA, José; GONÇALVES, José – Outeiro Maior. Outeiro Maior: Junta de Freguesia de Outeiro Maior, 2005.

- FERREIRA, José – Páginas da História de Bagunte. Vol. I. Bagunte: Edição do Autor, 2015.

- FERREIRA, José – Páginas da História de Bagunte. Vol. II. Bagunte: Edição do Autor, 2015.

- [FURTADO, José] – Ponte D. Zameiro. Raízes. Boletim informativo da União de Freguesias de Bagunte, Ferreiró, Outeiro e Parada, n.º 2 (2016) p. 6.

- SERENO, Isabel; REBELO, Elvira – Paço do Casal dos Cavaleiros [em linha]. SIPA - DGPC, 1997. [Consult. 07 abril 2022]. Disponível em WWW: http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=3871
 

Texto: José Furtado

Imagens atuais: Filipe Fonseca

 

 

           

           

 

 

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