
A cada mês continuamos a assinalar o Centenário de Agustina Bessa-Luís.
👉 Neste mês de setembro, mês em que, habitualmente, Agustina passava férias com a família na Quinta de Cavaleiros, naquilo que era o que restava das férias antes do início do ano letivo, partilhámos convosco algumas passagens do livro “Colar de Flores Bravias”, que era precisamente o nome que Agustina dava a estes períodos de férias em Cavaleiros.
Quando chegava setembro, era altura de rumar a Cavaleiros “para o resto das férias na quinta. A quinta tinha sido comprada há pouco tempo, estava arrasada, cheia de cepas velhas, e ficava perto da vila, mas num buraco antigo onde outrora tinham pousado os Romanos ou Celtas ou gente assim”, numa referência ao Monte da Cividade, as “duas primas acharam muito bom ir para lá, porque eram férias e enquanto eram férias era bom estar em qualquer parte, comer pão com manteiga, e brincar com bonecos de papel recortados e desenhados a tinta azul.”
Nestas férias de setembro, eram comuns os passeios pelos campos e, sobretudo, até à capela de N. Sra. das Neves e à Cividade de Bagunte: “Às vezes, a mamã ia à capela, pela tardinha, e levava as meninas. Era um passeio bonito. Cruzavam um largo campo de milho restivo, passavam em caminhitos cheios de pedregulho e silvedo já rapinado, vinham depois os portais duma quinta onde havia dois terríveis cães a ladrar, a correr atrás da gente como demónio danados. Passava-se a aldeia, os tanques aonde o gado descia pela tarde, as casas de pedra negra onde crianças berravam e sempre cantava uma galinha. E vinham as matas com o seu caminho branco entre eucaliptos, os tapetes de caruma, os rastejos dos bicharocos entre o mato, os ventos leves perpassando nos ramos altos, os pios rápidos da ave assustada, o balido do rebanho que passa em baixo noutra volta da cerca. Era um passeio bonito.”
E assim termina o livro: “Recordações daquelas férias que eram como um colar de flores bravias, recordações murchavam como as flores do colar. Mas ainda eram flores – e com o perfume seco das coisas sem fim a que a gente chama saudade”.
Aproximamo-nos das últimas partilhas referentes a Agustina. Já leu alguma obra da escritora? Aconselhamos um dos que fazem referências diretas aos períodos passados aqui em Bagunte e Outeiro Maior.
📚 BESSA-LUÍS, Agustina – Colar de Flores Bravias. Lisboa: Editora Labirinto de Letras, 2014.