Recordar Agustina Bessa-Luís

Colar de Flores Bravias é um conto inédito da escritora Agustina Bessa-Luís, publicado a 31 de março de 2014, pela sua filha Mónica Baldaque, pois a escritora já se encontrava retirada da vida pública. O conto tinha sido escrito 67 anos antes da sua publicação (1947) e relata episódios do seu contacto exterior, principalmente as aventuras de passeios improvisados, nas férias escolares e na companhia de uma prima - Rosa. Esses passeios improvisados tinham como pano de fundo a Quinta de Cavaleiros, local que é muito retratado nos livros desta escritora nascida em Amarante em 1922.

O conto Colar de Flores Bravias é ilustrado pela filha da autora – Mónica Baldaque, e conta ainda com a introdução escrita pelo seu marido – Alberto Luís.

O título da obra aponta para a prevalência do elemento naturalista, enquanto sugere uma cadeia, um fio, composto pelos pedaços, as flores, da memória, as “recordações daquelas férias que eram como um colar de flores bravias”.

Uma vez mais, a obra é autobiográfica, uma vez que a protagonista Dorinha representa a Agustina-menina, e a Rosa representa Alice a prima da autora. A própria ação é próxima de passagens da biografia de Agustina. Tal como em “O Soldado Romano”, por exemplo, são revisitadas as aventuras vividas em tempo de férias, em Setembro, numa quinta – Quinta de Cavaleiros, próxima das ruínas romanas da cividade de Bagunte. A infância e a vida ao ar livre, que tem a natureza como cenário e testemunha, são dois dos eixos principais que sustentam a narrativa.

Todo o conto faz-nos criar imagens sobre uma infância feliz da escritora, cheia de cor, de luz e de cheiros, que a autora retrata como ninguém neste seu livro. Como é o exemplo do seguinte excerto: “Assim brincava Dorinha. O céu era claro, as vinhas cheiravam a morango, a água corria no pomar, nos regos empedrados; havia pequenas flores lilases nos muros, entre musgos”. Entramos então em uma narrativa em que cuja protagonista é a Dorinha, mas também conta com a prima Rosa, a amiga predileta desta. 

Apesar de ser um conto e abordar a infância feliz da autora, este é mais dirigido a um público juvenil ou adulto, pois como é característico no universo Agustina Bessa-Luís, aborda temáticas que em muito estão ligadas à vida adulta e a saudade dos tempos em que eramos crianças, sem preocupações e medos da incerteza dos tempos em que vivemos.

A jovem Agustina, retratada no Colar de Flores Bravias como Dorinha, é hábil a dar tiques às personagens ou a estimular a curiosidade do leitor através de algum dado insólito ou incompleto. O mundo interior e pessoal da Dorinha é um caleidoscópio de fantasias maravilhosas e de temores, de pequenas vontades interventivas e de suspeitas de predeterminações, características das grandes personagens criadas por Agustina. Como é o caso de Dorinha.

Bagunte é retrata como uma espécie de “terra prometida” – a quinta “num buraco antigo”, que, comprada há pouco tempo, “estava arrasada, cheia de cepas velhas” – e sobre a casa rústica, quase inóspita – depois matizada por aspetos agradáveis e compensada pelo “passeio bonito” até à capela e por vislumbres do espaço ritual envolvente ou perante a imagem da Virgem de “rosto bizantino e moreno com olhos largos de paciência doce”. 

Desde a chegada à quinta até à vindima próxima e ao serão de desfolhada em casa da vizinha, não faltam já os recursos de cor local, como por exemplo “cheirava muito bem a glicínias”, “O luar entrava no quarto e fazia uma cauda de noiva cor de prata nas tábuas brancas, estendendo-se em leque, e era uma coisa linda de ver.”, “mulher que tinha muitos filhos sujos e com olhos azuis (…) azuis escuros, lindos, lindos – mas decerto não o sabiam.”

Mas, também não falta o monólogo interior, como por exemplo o gosto de pão com manteiga, os sustos e fantasias noturnas, as dissimulações de meninice de Rosa que “gostava de pescar palavras estranhas que lhe explicassem mistérios da vida”, a visão infantil das touradas, ou o relatar determinado tipo de coisas como o engolir talos de roseiras e pâmpanos das vides – “só por fanfarronice”, as brincadeiras no pomar ou na mata ao pé do vinhedo, a “boneca de trapos com uns olhos saltões”, entre outras coisas.

Colar de Flores Bravias é um bom conto para toda a família, que envolve e apaixona a cada página, e uma forma de saber um pouco mais sobre a freguesia onde a autora teve uma infância tão feliz, nos seus tempos de férias.

Ficou curioso? Acompanhe-nos nesta nossa viagem pela obra de Agustina, rumo ao centenário.

Bibliografia

BESSA-LUÍS, Agustina – Colar de Flores Bravias. Lisboa: Editora Labirinto de Letras, 2014.

 Texto: Marisa Ferreira

 

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